DA DESCARTABILIDADE DAS COISAS E DAS PESSOAS - Be Galvão - 31/01/06

DA DESCARTABILIDADE DAS COISAS E DAS PESSOAS


Do aparelho celular ao filhote de cachorro que foi comprado numa feirinha mas cresceu, tudo é descartável.

Da geração que viu nascer e morrer o vídeo-cassete e o gravador, que jogou fora a TV em preto&branco pela em cores, os LPs pelos CDs, os telefones de disco pelos de teclas, que mais poderíamos esperar senão que também substituísse, sem a menor cerimônia e até com certo entusiasmo, seus relacionamentos, seus empregos, seus tratados, sua palavra? Se não interessa mais, está obsoleto, tem que ser descartado. Jogado fora.

Não está satisfeito com o empregado? Mande embora e contrate outro.

Prometeu algo que agora não lhe parece tão interessante? Não cumpra! (Afinal, tantas vezes já fizeram isso com você também...)

Seu amigo não te agrada mais? Bloqueie no MSN, não retorne a ligação e diga que não recebeu os e-mails. Fácil.

Minta! Negue! E se te cobrarem explicações, diga que está sem tempo. Se não aceitarem seus falsos argumentos, não se importe. Pra que ser educado? Não é necessário. Logo vão esquecer. Tudo passa. Tudo dura pouco. Tudo é substituível.

Substitua estas pessoas inconvenientes, que se preocupam demais com você, que "exigem" a tua presença, física ou virtual que seja. Jogue-as fora! Há outras disponíveis no mercado.

Busque novos padrões, novas referências. Opte por modelos mais leves, de preferência ocos, mais fáceis de manipular.

Esqueça sua lealdade, seu comprometimento, pois isso pesa, é muito trabalhoso. Os próprios livros de auto-ajuda te darão o embasamento necessário para que não sinta culpa nenhuma por não "desperdiçar" seu tempo dedicando-se àquele que está sedento por um sorriso, um bom-dia, um carinho, um telefonema, um abraço. Aquele que acreditou em você.

Não se preocupe, cada um tem seu karma, dirão os livros.

Já fui injusta e já falhei quando não deveria.

Mas percebo que aquela verdade doída, assim como o remédio no machucado, é a que cura.

Quem me conhece sabe o quanto me dói a amizade perdida, quer pela distância, quer pelo desinteresse.

Mas para o lixo têm que ir as mentiras, a falta de consideração e de educação, a raiva (inclusive a minha), os jogos de manipulação.

Eu não sou lixo. Meu nome, minha integridade, meus valores, eu construo todos os dias.

Reformo o que é preciso. Restauro o que foi perdido. Não somos descartáveis.

Minha amizade e meu respeito pelas pessoas que participam da minha vida são bens duráveis.

Meus sentimentos – quando muito! – recicláveis.
Be Galvão - 31/01/06

4 comentários:

  1. sei exatamente do que você fala. acho está na minha pele. mas qdo for na pele do outro, quem sabe as coisas nao modifiquem. se as pessoas fosse capazes de descobrir que inflamar, e encarar, e ter responsabilidades é mais interessante e vivo do que deletar, deixar pra lá, esconder suas proprias fraquezas por nao conseguir se hornar com as amizades, com as promessas que fez, com a vida que leva. daí é melhor viver na onda, do consumismo, da descartabilidade, junto aos semelhantes. eu estou lotando minha vida de pessoas cheias de significantes, e vc é uma delas. te adoro, muito

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  2. Parabéns pelo texto. Curto te conciso, mas bem oportuno.

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  3. Obrigada!
    Queria não precisar escrever isso...
    BÊijinhos da BÊ

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  4. Franca e claramente você fala de uma infeliz realidade a qual fomos inseridos, voluntária, e ou, involuntáriamente, em nossa "magnífica" sociedade moderna. O pior é saber que mesmo nos meios tidos como... "diferentes", habitados por pessoas... "mais" cabeça, como se costuma dizer; por exemplo, o meio artístico, esse tipo de prática é cada vez mais presente. E quando digo isso, não o faço me referindo apenas àqueles que exploram a arte, mas inclusive e principalmente o próprio artista, que ultimamente a primeira coisa que descartou, foi a dignidade. (salvo algumas excessões, é claro) Muito bem, Bê.

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